Sei que entrar em discussões na internet é um erro. Geralmente, online, ninguém lê ou interpreta os pontos de vistas contrários ao seu, o que gera uma “gritaria” que não leva a lugar nenhum. Mas, mesmo assim, acabo me envolvendo em alguns debates. Principalmente quando entra em algum ponto sobre o feminismo. É que, na maioria das discussões que tive com pessoas se dizendo contra o feminismo, elas tinham uma noção bem rasa do que realmente é o movimento. Entenda, não quero dizer que todo mundo tem a obrigação de saber, mas, a partir do momento em que você decide se posicionar sobre um assunto, você deve sim ter noção do que está falando. As pessoas xingam de ~feminazis~, tacam pedra na Geni e são contra o feminismo sem ao menos saber o que significa.
Fico inconformada ao ver mulheres perpetuando o machismo. É que ainda existe, sim, uma introjeção do machismo nas mulheres e isso é um dos mecanismos de sua manutenção. E não tô falando das nossas avós ou mães porque elas foram criadas em uma época na qual os ideais do feminismo ainda não eram tão difundidos e o machismo imperava como verdade absoluta. Então, quando crianças, acabaram incorporando os valores dos pais machistas e da sociedade patriarcal, transformando-os em seus e, devido a isso, muitas já têm uma ideia formada imutável. O que me deixa decepcionada mesmo é quando vejo filhas do feminismo, mulheres que fazem parte da nossa geração e que, como eu e você: votam, estudam, trabalham, namoram e transam com quem querem mas não conseguem reconhecer o valor disso. Do tipo que brada aos quatro ventos que o feminismo não serve mais pra nada. Que já cumpriu o seu papel e o resto é bobagem, é coisa de ~feminazi~. Como se a luta tivesse acabado. Sendo que ela mal começou.
Estamos falando de uma opressão histórica: durante milhares de anos, as mulheres foram subjugadas como incapazes. Só nos últimos dois séculos que começamos a mudar isso. Ainda temos um longo caminho a percorrer. Mas veja bem, nossa luta não é sozinha. Feminismo é um movimento social, filosófico e político que prega a igualdade. O feminismo não é o inverso do machismo. O machismo é um sistema de dominação masculina, uma vertente do sexismo, que defende a superioridade de um sexo em detrimento de outro. O feminismo não prega a dominação das mulheres sobre os homens. O feminismo é uma forma de sexualismo, que prega a igualdade entre os sexos. O feminismo almeja a libertação de padrões opressores baseados em normas de gênero. Feminismo é a luta por direitos iguais e liberdade. Liberdade. Não a supremacia feminina. Feminismo não prega ódio. Feminismo clama por igualdade. Feminismo é uma luta por direitos iguais. Feminismo quer um mundo justo e livre pra todos.
Então, veja bem: o feminismo não beneficia só as mulheres. Ele é contra o sistema patriarcal, que também oprime e vitimiza os homens. Afinal, a obrigatoriedade do serviço militar e a dificuldade em, por exemplo, conseguir a guarda dos filhos ou licença paternidade é tudo herança dessa cultura patriarcal que atribui aos homens o papel de provedores, o chefe de família, cara durão, a cultura do ~machão~ que não pode chorar, nem brochar e demonstrar seus sentimentos ou qualquer outra característica atribuída ao sexo feminino, já que esse é considerado frágil e inferior. É daí que vem usar “gay” como um “xingamento” porque ser gay é ser um homem “defeituoso”: com características de ~maricas~. Por isso é um equívoco os homens temerem o feminismo. O movimento oferece a eles a possibilidade de se libertarem dos conceitos ultrapassados de masculinidade e nocivos a ambos os gêneros.
É também um absurdo mulheres falarem que não precisam mais do feminismo porque já “sentem” que conquistaram igualdade de direitos. Se os tempos mudaram e nós, mulheres, podemos trabalhar, estudar e ter voz ativa, isso foi graças ao feminismo. E enquanto existir caga regras dizendo que “mulher não pode isso, mulher tem que ser aquilo,” vai existir o machismo travestido de ~valores da família~ ou ~bom senso~, e eu vou precisar do feminismo. Enquanto eu tiver que ignorar olhares e abordagens invasivas que escuto quando resolvo sair de minissaia, eu preciso do feminismo. Enquanto eu tiver medo de andar à noite na rua, não por receio de furtarem meu celular, mas por temer ser estuprada, eu preciso do feminismo. Enquanto eu tiver medo de ser violentada oralmente, verbalmente ou sexualmente, eu preciso do feminismo. Enquanto a média salarial da mulher ainda for mais baixa que a do homem, eu preciso do feminismo. Enquanto mulheres sofrerem violência doméstica (na maioria dos casos o próprio parceiro é o agressor), eu preciso do feminismo. Enquanto a sociedade me impuser padrões de beleza, de comportamento e de vida, eu preciso do feminismo. Enquanto medirem o meu caráter pelo comprimento do meu vestido, eu preciso do feminismo. Enquanto a cultura do estupro continuar, eu preciso do feminismo. Enquanto eu não for a dona do meu prazer, eu preciso do feminismo. Enquanto eu não me sentir livre o suficiente para escolher ser o que eu quiser ser, eu preciso do feminismo.
Resumindo pra vocês: sou feminista, sim, com orgulho. E quando alguém bate o pé e afirma que não é feminista eu concluo que essa pessoa não sabe sobre o que está falando.
Casal Sem Vergonha
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