Composto feito de subprodutos da indústria de papel e suco de laranja permite o uso de matérias-primas menos nobres na produção do biocombustível, reduzindo o seu custo.
Por: Fernanda Távora
O aditivo, feito de resíduos da casca de cítricos e de resinas de árvores usadas na indústria de papel, aumenta a fluidez do biodiesel e diminui o entupimento que ele provoca no filtro dos motores. (foto: Antonio Scarpinetti/ Ascom-Unicamp)
Um aditivo natural feito a partir de resíduos da produção de papel e de suco de laranja promete melhorar o desempenho do biodiesel brasileiro e reduzir o seu custo. O composto, desenvolvido no Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), age no combustível aumentando a sua fluidez, o que diminui o entupimento provocado no filtro dos motores. Essa característica permitiria ampliar o uso de gordura animal, matéria-prima mais barata e considerada menos nobre que o óleo vegetal, na fabricação do biodiesel.
A formulação do aditivo inclui compostos como o limoneno, extraído da casca de cítricos como a laranja, e a terenbitina, óleo que é um subproduto da indústria do papel. Segundo o químico Rodrigo Alves de Mattos, o composto, desenvolvido em seu mestrado na Unicamp, foi pensado inicialmente para aumentar o uso de materiais como sebo bovino, gordura de porco e restos de óleo industrial na produção de biodiesel, além de dar um destino útil aos resíduos das indústrias de papel e suco de laranja.
Atualmente o Brasil é o terceiro na lista de países produtores de biodiesel, além de ser um dos maiores consumidores desse tipo de combustível
Atualmente o Brasil é o terceiro na lista de países produtores de biodiesel, além de ser um dos maiores consumidores desse tipo de combustível. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em maio de 2013 o óleo de soja representava 78,43% do total da matéria-prima usada para fabricação de biodiesel. O sebo bovino ficava em segundo lugar, com apenas 18,97%.
Um dos principais obstáculos ao uso de gordura animal na fabricação de biodiesel é o entupimento do motor. Quando a temperatura do ambiente diminui, a precipitação da gordura é maior e o combustível fica mais viscoso, o que dificulta sua chegada ao motor e causa falhas no mecanismo. Atualmente, para evitar esse problema, usa-se o biodiesel de sebo bovino misturado ao de soja.
Mattos ressalta que a aplicação do aditivo no biodiesel de gordura animal poderia aumentar o investimento na produção desse biocombustível e permitir a introdução imediata do B10 (diesel com 10% de biodiesel) no mercado brasileiro. A adição de biodiesel ao óleo diesel comercializado no Brasil passou a ser obrigatória desde 2008. Em 2010, começou a ser vendido no país o B5 (diesel com adição de 5% de biodiesel) e há previsões para a introdução do B10 no futuro.
Desempenho melhorado
Segundo o pesquisador, no caso do B5, em que a adição de biodiesel ao diesel de petróleo é pequena, não há muita diferença de desempenho em relação ao tipo de biocombustível usado, embora seja possível perceber alguns problemas. Com o biodiesel de soja, há entupimento no motor a uma temperatura de aproximadamente 5ºC – assim como acontece com o diesel puro – e, com o biodiesel de gordura, a interrupção no fluxo ocorre a 7ºC.
No entanto, quanto mais se aumenta o percentual de biodiesel de gordura, maior é o impacto. Em misturas com 10% de biodiesel animal, por exemplo, o ponto de entupimento salta para aproximadamente 13ºC, enquanto com a adição dessa mesma quantidade de biocombustível de óleo de soja essa temperatura se mantém em cerca de 5ºC.
Testes em laboratório mostraram que o uso do aditivo permite que o biodiesel feito de gordura tenha a mesma temperatura de entupimento que o de óleo de soja. “Considerando 10% de biodiesel de origem animal na mistura, o aditivo reduziu a temperatura do ponto de entupimento de 13ºC para aproximadamente 5ºC”, afirma Mattos.
Por: Fernanda Távora
O aditivo, feito de resíduos da casca de cítricos e de resinas de árvores usadas na indústria de papel, aumenta a fluidez do biodiesel e diminui o entupimento que ele provoca no filtro dos motores. (foto: Antonio Scarpinetti/ Ascom-Unicamp)
Um aditivo natural feito a partir de resíduos da produção de papel e de suco de laranja promete melhorar o desempenho do biodiesel brasileiro e reduzir o seu custo. O composto, desenvolvido no Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), age no combustível aumentando a sua fluidez, o que diminui o entupimento provocado no filtro dos motores. Essa característica permitiria ampliar o uso de gordura animal, matéria-prima mais barata e considerada menos nobre que o óleo vegetal, na fabricação do biodiesel.
A formulação do aditivo inclui compostos como o limoneno, extraído da casca de cítricos como a laranja, e a terenbitina, óleo que é um subproduto da indústria do papel. Segundo o químico Rodrigo Alves de Mattos, o composto, desenvolvido em seu mestrado na Unicamp, foi pensado inicialmente para aumentar o uso de materiais como sebo bovino, gordura de porco e restos de óleo industrial na produção de biodiesel, além de dar um destino útil aos resíduos das indústrias de papel e suco de laranja.
Atualmente o Brasil é o terceiro na lista de países produtores de biodiesel, além de ser um dos maiores consumidores desse tipo de combustível
Atualmente o Brasil é o terceiro na lista de países produtores de biodiesel, além de ser um dos maiores consumidores desse tipo de combustível. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em maio de 2013 o óleo de soja representava 78,43% do total da matéria-prima usada para fabricação de biodiesel. O sebo bovino ficava em segundo lugar, com apenas 18,97%.
Um dos principais obstáculos ao uso de gordura animal na fabricação de biodiesel é o entupimento do motor. Quando a temperatura do ambiente diminui, a precipitação da gordura é maior e o combustível fica mais viscoso, o que dificulta sua chegada ao motor e causa falhas no mecanismo. Atualmente, para evitar esse problema, usa-se o biodiesel de sebo bovino misturado ao de soja.
Mattos ressalta que a aplicação do aditivo no biodiesel de gordura animal poderia aumentar o investimento na produção desse biocombustível e permitir a introdução imediata do B10 (diesel com 10% de biodiesel) no mercado brasileiro. A adição de biodiesel ao óleo diesel comercializado no Brasil passou a ser obrigatória desde 2008. Em 2010, começou a ser vendido no país o B5 (diesel com adição de 5% de biodiesel) e há previsões para a introdução do B10 no futuro.
Desempenho melhorado
Segundo o pesquisador, no caso do B5, em que a adição de biodiesel ao diesel de petróleo é pequena, não há muita diferença de desempenho em relação ao tipo de biocombustível usado, embora seja possível perceber alguns problemas. Com o biodiesel de soja, há entupimento no motor a uma temperatura de aproximadamente 5ºC – assim como acontece com o diesel puro – e, com o biodiesel de gordura, a interrupção no fluxo ocorre a 7ºC.
No entanto, quanto mais se aumenta o percentual de biodiesel de gordura, maior é o impacto. Em misturas com 10% de biodiesel animal, por exemplo, o ponto de entupimento salta para aproximadamente 13ºC, enquanto com a adição dessa mesma quantidade de biocombustível de óleo de soja essa temperatura se mantém em cerca de 5ºC.
Testes em laboratório mostraram que o uso do aditivo permite que o biodiesel feito de gordura tenha a mesma temperatura de entupimento que o de óleo de soja. “Considerando 10% de biodiesel de origem animal na mistura, o aditivo reduziu a temperatura do ponto de entupimento de 13ºC para aproximadamente 5ºC”, afirma Mattos.
Atualmente a soja é a principal matéria-prima usada na fabricação de biodiesel no Brasil. Mas seu custo elevado é um entrave para o aumento do percentual desse biocombustível misturado ao diesel vendido no país. (foto: Fernando Weberich/ Sxc.hu)
Hoje um dos principais entraves para o aumento do percentual de biodiesel no combustível é o custo da sua produção. Apesar de ser o carro-chefe da indústria do biodiesel, a soja é uma matéria-prima cara. “A soja é um material mais nobre, usado tanto na alimentação da população, quanto na agropecuária”, explica o químico. Segundo ele, levando em conta o grande consumo de carne no Brasil, a gordura proveniente dessa indústria poderia ser mais utilizada na produção do biodiesel.
O aproveitamento da gordura animal para produzir biodiesel é de 65% a 70%. Embora o rendimento seja um pouco menor que o da soja, a gordura é mais barata, além de ter outras vantagens. “O biodiesel da soja provoca menos entupimento nos motores, mas oxida com mais facilidade. Com a gordura, a oxidação demora mais e a durabilidade aumenta.”
Segundo a Agência de Inovação da Unicamp, o pedido de patente do aditivo natural ainda está em fase de análise e algumas empresas já demonstraram interesse na fabricação do produto.
Fernanda Távora
Ciência Hoje On-line
CH
Hoje um dos principais entraves para o aumento do percentual de biodiesel no combustível é o custo da sua produção. Apesar de ser o carro-chefe da indústria do biodiesel, a soja é uma matéria-prima cara. “A soja é um material mais nobre, usado tanto na alimentação da população, quanto na agropecuária”, explica o químico. Segundo ele, levando em conta o grande consumo de carne no Brasil, a gordura proveniente dessa indústria poderia ser mais utilizada na produção do biodiesel.
O aproveitamento da gordura animal para produzir biodiesel é de 65% a 70%. Embora o rendimento seja um pouco menor que o da soja, a gordura é mais barata, além de ter outras vantagens. “O biodiesel da soja provoca menos entupimento nos motores, mas oxida com mais facilidade. Com a gordura, a oxidação demora mais e a durabilidade aumenta.”
Segundo a Agência de Inovação da Unicamp, o pedido de patente do aditivo natural ainda está em fase de análise e algumas empresas já demonstraram interesse na fabricação do produto.
Fernanda Távora
Ciência Hoje On-line
CH
0 comentários:
Postar um comentário